O BOCA ABERTA
O palco da minha infância e juventude foi a Calheta Pêro de Teive, num cenário único envolto nos mistérios, nas fábulas e na aspereza de vida dos homens do mar.
O colorido das embarcações, Barcos de Boca Aberta, contrastavam com o negro das pedras do porto e harmonizavam-se com as ondas do mar.
A minha memória retrata com exactidão a azáfama organizada dos pescadores, o cuidado que aplicavam nos apretechos, a saída e entrada do porto, transmitindo um sentido de equipa único.
Estas recordações fascinantes foram despertadas, pelo assombramento da reestruturação imposta pela Comunidade Europeia.
As dúvidas e o receio deram origem aos meus nefastos pensamentos.- Qual será o futuro dos Barcos de Boca Aberta?
- Será que vão desaparecer á semelhança da Calheta de Pêro de Teive?
Após uma pequena investigação junto dos homens do mar e de algumas entidades ligadas á área da pesca, fiquei mais tranquilo.
Segundo Liberato Fernandes os Barcos de Boca Aberta não irão desaparecer.
A reestruturação imposta pela Comunidade Europeia irá originar limites na captura ( milhas e consume local ), o que obriga a estruturar o futuro de forma a evitar que os barcos de pesca passem a ser uma peça culturalmente morta, peça de museu.
A ideia é complementar a actividade dos Barcos de Boca Aberta com a do turismo. Os passeios turísticos e a pesca segundo os métodos artesanais são a perspectiva futura.
A ideia pareceu-me boa, mas o meu inconsciente transportou-me para o problema da insegurança. Talvés pelo desfio corajoso constante dos pescadores, em enfrentarem as intempéries do mar açoreano.
Recordei-me então de uma afirmação proferida por Genuino Madruga « … Corri o mundo e não encontrei um barco de pesca tão bem construído, com tanta segurança, como os nossos barcos de boca aberta … »
Cada um de nós deverá preservar o nosso património histórico e cultural, e ter uma acção activa na sociedade.
Esta exposição surge com uma dualidade totalmente distinta, contribuir para a sensibilização, divulgação da beleza dos Barcos de Boca Aberta e cumprir com uma promessa póstuma para com o meu amigo Padre João Caetano Flores.

João Freitas